Já passou o tempo em que, para não sofrer com a fofoca das amigas, você tinha de entrar na igreja despida de qualquer vaidade. Nada de maquiagem nem de roupas minimamente chamativas. Uma burca, para essas piedosas senhoras, talvez fosse a vestimenta mais recomendada.
Nos templos evangélicos, a vigilância do pastor era ainda mais severa e qualquer cuidado com a aparência merecia uma raivosa descompostura, pois era considerado inadequado.
Por sorte, a popularização das denominações neopentecostais e a consequente reação carismática da Igreja Católica arejaram um pouco o ambiente, permitindo que as fiéis tivessem mais liberdade — ainda que mantendo o recato.
Porém, aquelas mais ciosas da palavra de Deus se perguntam: “Usar brinco é pecado?”. Existe, nas Escrituras, uma determinação proibindo expressamente esse tipo de acessório? Razão pela qual, embora não seja seguida à risca nos dias de hoje, a pessoa esteja agindo em desacordo com o que prega sua fé?
Se essa também é uma dúvida sua, não se aflija. Vejamos o que a Bíblia diz a respeito e tentemos elucidar se, de fato, usar brinco é pecado. Vamos lá.
O que diz o Evangelho?
Existem ao menos duas passagens nas Escrituras citando o uso de enfeites que causam dúvidas em relação aos brincos.
Uma delas está na primeira carta escrita pelo apóstolo Paulo a Timóteo, um jovem líder da igreja de Éfeso. Conhecido como Primeira Epístola a Timóteo, o documento trata dos aspectos administrativos e de organização dessa comunidade religiosa — além de regras de conduta, tanto para homens como para mulheres.
Entre outras coisas, Paulo recomenda que as mulheres da congregação se vistam “modestamente, com decência e discrição, não se adornando com tranças, nem ouro, nem pérolas, nem roupas caras, mas com boas obras” (2:9,10).
A segunda aparece no livro 1 do apóstolo Pedro, que escreveu aos fiéis dispersos em razão da perseguição sofrida nos primeiros anos do Cristianismo. A certa altura, o autor fala a esposas e maridos, dando conselhos acerca do convívio matrimonial.
Diz Pedro: “A beleza de vocês não deve estar nos enfeites exteriores, como cabelos trançados e joias de ouro ou roupas finas. Pelo contrário, esteja no ser interior, que não perece, beleza demonstrada num espírito dócil e tranquilo, o que é de grande valor para Deus” (3:3,4).
Quer dizer, então, que usar brinco é pecado?
Uma das coisas que dificultam a vida de quem procura se conduzir de acordo com os preceitos do livro sagrado é a tal da interpretação. Nem tudo o que se lê na Bíblia pode ser seguido ao pé da letra, sob pena de arrumarmos uma bela confusão.
Some-se a isso a questão do contexto, que pode ser entendida de duas formas: primeiro, como a circunstância em que determinada informação é passada. E, segundo, no sentido da cultura e dos costumes da época em que o Evangelho foi escrito — diga-se de passagem, bem diferentes dos nossos.
Normalmente, temos contato com o que diz a Bíblia na forma de tópicos isolados do contexto geral. As pessoas que a usam para justificar seus pontos de vista geralmente citam versículos pinçados ao acaso, sem que tenhamos conhecimento do todo.
Além disso, existe um Mediterrâneo inteiro de diferença entre os tempos dos apóstolos e a forma como vivemos hoje em dia, principalmente no que diz respeito ao papel da mulher na sociedade.
Ainda hoje lutamos para nos livrar dessa posição subalterna que nos foi imposta, resultado de uma organização social inspirada no patriarcado e que teve como principal justificativa a própria Bíblia — sem falar nos livros sagrados das demais religiões monoteístas.
Só para citar um exemplo, Paulo instrui Timóteo a não permitir que a mulher imponha autoridade sobre o marido, mas que simplesmente “esteja em silêncio” (2:12).
Os tempos, porém, são outros, e cada vez mais exigimos viver em pé de igualdade com nossos companheiros do sexo masculino. Feminismo? Que nada, apenas uma questão de coerência.
Sendo assim, está tudo liberado?
Ainda falando da tal da interpretação, mencionada no início do tópico anterior, e fazendo justiça aos apóstolos citados, é importante observar que ambos são acordes no seguinte: é preferível ter um coração caridoso que uma boa estampa.
Isso quer dizer que não adianta aparentar beleza exterior quando o interior não condiz com a imagem criada.
Imagine uma pessoa que anda sempre impecável, cuidadosamente maquiada, com belos acessórios e um look da moda. Resumindo, linda de se ver. No entanto, é mesquinha, arrogante, vive criando problemas para os outros e dores de cabeça para a família.
Muito melhor que fosse menos preocupada com suas roupas e brincos da moda que com sua péssima conduta, não é verdade? Portanto, não é a ausência de enfeites que fará alguém mais ou menos virtuoso. Isso vale tanto para homens quanto para mulheres.
Acreditamos que se pode tomar as palavras dos evangelistas nesse sentido. Isso demonstra, por outro lado, que não há problema algum em querer se sentir bonita, tanto do lado de fora quanto de dentro.
Aliás, podemos considerar o cuidado com a aparência um tributo a Deus — afinal, isso demonstra nosso zelo para com uma de Suas mais importantes criações.
Mas não devemos entender isso como um “liberou geral”. Lembre-se que Paulo recomenda “decência e discrição”, dois atributos valiosos em um contexto de expressão da religiosidade.
Assim como determinada situação sugere esse ou aquele tipo de vestuário, os locais dedicados ao culto e manifestação da fé são regidos por normas que, embora não tão severas quanto antigamente, convém cumprir.
Porém, isso realmente não significa que você deva deixar de usar brincos ou qualquer outro acessório. Não há nada na Bíblia que os condene de modo veemente, apenas os utiliza como uma forma de salientar o que realmente importa: o conteúdo.
Assim sendo, descarte essa ideia de que usar brinco é pecado. Apenas não esqueça de cultivar a beleza interior da mesma forma que você cuida da beleza externa. E seja feliz.
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