Mesmo quem faltou a todas as aulas de catecismo nem nunca esquentou banco de igreja em manhã de domingo conhece a oração do Pai Nosso. É uma dessas coisas que habitam o inconsciente coletivo da cristandade. Ou, antes, uma das rezas mais populares de nosso tempo.
A razão disso é simples: segundo a tradição bíblica, o próprio Jesus ensinou-a aos discípulos. Está lá, anotada no Novo Testamento (ainda que de uma maneira um pouco diferente daquela que conhecemos), em duas passagens: Mateus 6:9-13 e Lucas 11:2-14.
Santo Agostinho, um dos principais pensadores do Cristianismo, argumentou que tudo o mais que é rezado na Bíblia, os salmos incluídos, convergem diretamente para os versos do Pai Nosso (ou Oração Dominical, Oração Modelo, como também é referida). Seria, portanto, a síntese do Catolicismo.
O tamanho de sua influência em nosso cotidiano pode ser medida pelo fato de que, até pouco tempo atrás, era parte da rotina escolar iniciar as aulas com a declamação do Pai Nosso.
A partir da Constituição de 1988, que reforçou a laicidade do Estado, a prática tornou-se controversa, face também ao entendimento de que existem outras manifestações religiosas sendo professadas em nosso país. Hoje em dia, o avanço do sagrado em terreno laico voltou a ser observado, porém a questão é que o Pai Nosso marcou profundamente a formação espiritual dos brasileiros. Marca, seria mais correto dizer.
Vale, entretanto, observar outra questão: o quanto daquilo que é dito é entendido. Como tantas coisas que se aprendeu na escola, o Pai Nosso foi internalizado na forma de “decoreba”. Da mesma forma, quem reza o Pai Nosso como parte do Terço, o faz mecanicamente, à maneira de um mantra.
Seja como for, quantos de nós sabem realmente o que cada frase da famosa oração significa? Bem, se você não quer passar “carão” diante do padre ou simplesmente deseja nutrir a sua fé com um entendimento mais aprofundado da liturgia, segue uma dissecção comentada da letra. Acompanhe:
Pai Nosso que estais no Céu
Aqui não se está falando, por óbvio, no “céu de brigadeiro” nem na vastidão que habita o Cosmos sobre nossas cabeças. Fala-se, para usar expressão apropriada, da “morada do Pai”, o céu celestial onde os cristãos acreditam que Deus habite — e onde todos os crentes esperam um dia alcançar.
Mas não se refere, em última instância, a um lugar, e sim à presença divina, que não ocupa espaço nem tempo.
Santificado seja o Vosso Nome
Já diriam os mais fervorosos que “o sangue de Jesus tem poder”. Assim como tem poder o nome do Senhor, diante do qual espíritos de má procedência saem de fininho e que, devido a essa santidade, não pode ser usado em vão. Uma curiosidade: outras religiões monoteístas também reconhecem a potência do nome divino. Inclusive, na tradição islâmica, há 99 nomes para Deus. Mas voltemos ao que interessa….
Venha a nós o Vosso Reino
Talvez a parte mais passível de confusão semântica, sem contar o fato de que muita gente troca o “nosso” pelo “vosso” (na prática espiritual até, vale dizer).
De qualquer maneira, afora o simples desejo de que o reino celestial esteja ao nosso alcance, o que se espera, de modo efetivo, é que haja o prometido retorno do Messias. Cristo, portanto. “Mas espere! Não foi o próprio Cristo que ensinou a oração?”. Sim, você está começando a captar a ideia….
Seja feita a Vossa vontade assim na Terra como no Céu
Mais uma vez, não é a “nossa” vontade que deve prevalecer, mas sim a vontade divina, cuja vigência desejamos que se imponha em nosso meio tal qual é exercida no lar celestial. Trata-se de um exercício de resignação, visto que, para o cristão, todas as coisas derivam da sabedoria do Senhor.
O pão de cada dia nos dai hoje
Eis um trecho autoexplicativo, salvo por um detalhe: não é apenas o alimento material que se almeja obter, como também o alimento espiritual, que é alcançado graças ao favor e bondade divinos.
Aqui, o pão representa o sustento, elemento básico para a manutenção da vida e o qual pedimos em oração, confiantes de que Deus não nos faltará, ainda que, como diria a Santa Paulina, venham ventos contrários.
Perdoai as nossas ofensas assim como perdoamos a quem nos tem ofendido
Essa frase encerra uma pegadinha, já que o perdão que pedimos está condicionado à lei da reciprocidade. Da mesma forma, podemos atribuir à sentença teor semelhante ao mandamento supremo, segundo Cristo, que diz: “Ama o próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:37-39).
No presente caso, se não é possível amar tão incondicionalmente, que seja ao menos estabelecido que a ofensa seja perdoada segundo a mesma medida do julgamento que oferecemos a terceiros. Temos, dessa forma, uma importante advertência: seremos julgados conforme a nossa própria justiça.
Não nos deixeis cair em tentação
Estamos rotineiramente expostas a armadilhas, mas a tentação de que se fala não é aquela que nos faz burlar a dieta. O perigo, no caso, é o de cair em pecado, cometer uma falta grave que nos corrompa o coração e nos afaste da fé e do amor de Deus.
Como somos imperfeitas, nem sempre possuímos a fortaleza capaz de nos manter a salvo dessas provações. Por isso, conclamamos a proteção dos Céus para nos proteger contra as pedras do caminho.
Mas livrai-nos do mal
Este último trecho relaciona-se diretamente com o anterior, uma vez que o pecado deriva do mal, que se opõe ao bem e é fonte de todas as misérias do mundo. Ou seja, aquela força negativa primordial que dá sentido ao próprio conceito da fé. É por temor a Deus, mas principalmente por medo da personificação desse mal, que rezamos e solicitamos a intervenção divina.
Amém
Para finalizar, amém, tradicional fórmula de encerramento das orações de judeus e cristãos. E, assim, encerramos nossa jornada pelo sentido do Pai Nosso, desfrutando daquela sensação de leveza e plenitude que nos dá a proteção do amor de Deus. Que assim seja!
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